Ao olhar a “retrospectiva” do clima em Santa Catarina ao longo de 2023, vem a insegurança para 2024: será que as chuvas intensas voltarão a ponto de novas enchentes históricas serem registradas? E como ficam as temperaturas nos próximos meses? Desastres são esperados?
Dar certezas sobre o comportamento climático é praticamente impossível, mas alguns fatores meteorológicos apontam tendências para o tempo no Estado em 2024. A começar pelo El Niño, fenômeno que trouxe as chuvas persistentes na primavera de 2023 e que continua atuando.
De intensidade forte, durante o verão o El Niño deixa de interferir nas chuvas e passa a influenciar nas temperaturas em Santa Catarina, explica a meteorologista da Epagri/Ciram, Gilsânia Cruz. É por isso que se espera uma estação mais quente que o normal, com ondas de calor intensas, já que as massas de ar quente atuam com maior frequência e maior duração.
As chuvas, então, devem ficar dentro do volume esperado — ou até um pouco abaixo da média em regiões próximas ao Paraná durante este verão. As precipitações cairão conforme é comum para esta época: principalmente entre o fim de tarde e noite, de maneira rápida e em pontos isolados. O risco de eventos extremos continua, principalmente em relação a temporais acompanhados de raios, granizo e ventania.
O cenário começa a mudar no final do primeiro trimestre de 2024, quando a estação mais quente do ano também chega ao fim. As águas de março fecham o verão e ficam mais frequentes, já que as frentes frias avançam com mais facilidade a partir desse mês. A cientista e pesquisadora do El Niño, Alice Grimm, diz que a probabilidade é do outono de 2024 ter chuva acima da média em Santa Catarina.
Isso porque modelos indicam 70% de chance do El Niño permanecer atuante até o outono, mas de forma moderada. Assim, diferentemente do verão, volta o impacto na quantidade de chuva — mas possivelmente não como foi observado no último trimestre de 2023, quando em pouco mais de um mês choveu o esperado para o ano inteiro.
Meteorologistas catarinenses de diversos órgãos públicos e instituições de ensino se reúnem mensalmente para definir as previsões do próximo trimestre. No encontro de dezembro, o Fórum Climático concluiu sobre as tendências descritas acima para os primeiros três meses de 2024.
E o segundo semestre?
O inverno, que habitualmente é a estação mais seca do Estado, pode ter chuvas acima da média se o El Niño não “for embora”. Por enquanto, no entanto, as análises indicam que o inverno será um período de neutralidade na temperatura do Oceano Pacífico, o que significa que a estação terá todas as características esperadas para Santa Catarina: ondas de frio e pouca chuva. A certeza, vale ressaltar, virá ao longo dos próximos meses, quando será possível confirmar o enfraquecimento do El Niño.
Com o fim da atuação dele, a primavera deve ter bastante chuva porque é a estação mais chuvosa de Santa Catarina, mas não na intensidade que foi registrada no ano passado, já que não haveria a influência do El Niño.
O que é o El ninõ?
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o El Niño é o nome dado ao aumento na temperatura da superfície da água em uma região do Oceano Pacífico, fazendo ela evaporar mais rápido. O ar quente sobe para a atmosfera, levando umidade e formando uma grande quantidade de nuvens carregadas.
Com isso, no meio do Pacífico chove mais, afetando a região Sul do Brasil, pois a circulação dos ventos em grande escala, causada pelo El Niño, também interfere em outro padrão de circulação de ventos na direção norte-sul e essa interferência age como uma barreira, impedindo que as frentes frias, que chegam pelo Hemisfério Sul, avancem pelo país. Logo, elas ficam concentradas por mais tempo na região Sul.
Tragédias climáticas
Não há como prever que novos desastres climáticos vão castigar Santa Catarina, mas uma coisa é certa: eles estão a cada ano mais frequentes, como mostrou o especial SC e os Extremos do Clima. Gilsânia ressalta que além do El Niño e diversos outros fenômenos que influenciam o tempo no Estado, o aquecimento global tem intensificado todo o cenário.
— Daqui pra frente a tendência é nós começarmos a ver muita coisa que não gostaríamos — resume a meteorologista.
Ou seja, independentemente do fenômeno que esteja atuando no ano, uma série de fatores contribui para Santa Catarina viver em constante monitoramento. Para enfrentar essa realidade, especialistas listam medidas que podem minimizar os impactos dos fenômenos extremos, como controlar moradias irregulares, reflorestar, cuidar das nascentes, diminuir a poluição, capacitar profissionais de Defesa Civil, investir em infraestrutura e, principalmente, conscientizar toda a população.
Fonte:
NSCTotal